segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Eu, eu mesma e meus seguidores

Um dos filmes mais poderosos desse neófito que é o século XXI, na minha opinião, é Watchmen. Ouso dizer que gostei mais do filme do que da Graphic Novel, que me desculpem os puristas. Em um certo momento do filme o infame Comedian está numa reunião com outros “heróis”, eles discutiam as possibilidades de salvar o planeta à beira do colapso nuclear. Conversa vai, conversa vem, o Comedian se levanta, bota fogo no mapa com o plano do Ozymandias e solta a frase que dá o tom para toda a trama: seres humanos desde sempre tentam se destruir, a diferença é que encontramos a maneira mais eficaz para fazer isso. (a frase não é bem essa, mas é essa a idéia)

Para quê salvar uma raça que desde sempre procura os meios para se auto-destruir? Não lutamos contra forças estranhas, nosso maior inimigo somos nós mesmos… O Comedian não foi o primeiro a dizer isso, rios de tintas filosóficas já correram sobre nosso ímpeto auto-destrutivo, em respostas rios de tintas correram para tentar nos defender enquanto espécie também. Mas somos sempre nós, falando sobre nós mesmos. 

E aqui chegamos onde eu realmente quero chegar.

Eu tenho lido centenas de textos que criticam as redes sociais e os usos que fazemos delas. Nossos perfils online são o palanque onde auto-promovemos nossas vidas, ou ao menos como a idealizamos. Likes, shares, comentários, xingamentos, na segurança de nossas casas desbravamos o mundo, ou melhor, nos mostramos ao mundo. O que em nós mudou? 

Eu faço uma crítica aos críticos.

Nada de nós mudou, somos os mesmos de sempre. Sempre quisemos aparecer, só que agora encontramos meios mais eficazes para fazer isso. 

A internet, as redes sociais, não mudaram nosso modo de ser. Deram vazão ao que sempre fomos. Todo mundo quer seus segundos de fama porque acha que sua própria existência tem alguma importância, ou melhor, busca aprovação dos outros para que se lembrem reiteradamente que a própria existência importa. 

É que a nossa importância enquanto indivíduos não é óbvia.

Além de nossas mães e pais que dizem que valemos algo (isso vale para os afortunados com pai e mãe, ou pai e pai, ou mãe e mãe, etc), para além do pequeno círculo familiar não é óbvio que valemos algo. Nossa própria importância não é algo já dado, é algo que visamos afirmar de diversas formas: pelo trabalho, pelo amor… e agora, graças à internet, pela foto fantástica que tiramos no final de semana, pelo compartilhamento de artigos indignados com a fome na África, com a constante construção de uma imagem de alguém que se importa com o mundo, e portanto é de alguma forma importante para o mundo. Não há ofensa maior do que dizer: sua existência é completamente irrelevante. Nos expomos nas redes sociais por isso: para provarmos para quem nos acompanha e, principalmente, para nós mesmos, que nossa existência não é completamente irrelevante. 

Nem todo mundo escreverá um livro que mudará a história. Nem todo mundo tem um talento incrível que será reconhecido como importante para nossa espécie. Nem todo mundo liderará uma revolução. Nem todo mundo diante de enorme massa de seres de nossa espécie, diante da nossa longa história, diante da nossa curta história diante da incomensurável história do universo, é relevante, deixará uma marca depois que partir dessa para melhor, mudará qualquer coisa. Nem todo mundo… e quanto mais cientes somos disso mais desesperados ficamos. E mostramos nossas vidas para o mundo “Ei! Eu estou aqui! Eu importo! Eu não como carne! Eu me preocupo com as vaquinhas que têm o leite roubado! Eu me preocupo com os curdos sendo massacrados pelo Estado Islâmico! Eu lamento o destino dos palestinos dilacerados pelas metralhadoras israelenses! Eu me importo, eu juro que me importo!”… as vezes sinto falta de ler a verdade “eu estou em desespero, diga que você se importa comigo, diga que eu tenho algum valor”.

Sempre fomos assim, nada mudou. Mas agora precisamos de menos empenho para alguém nos convencer de nossa relevância. Outrora você deveria no mínimo escrever um batia livro, o que é um trabalho monstruoso que exige muito sacrifício, horas na biblioteca e dedos doloridos. Fora disso apenas seus amigos e familiares poderiam servir para te dizer “você é importante”. Hoje temos outros meios. Nas redes sociais mostramos o que queremos que vejam de nós e sempre terá alguém para dar um “like”! “Oi! Eu te notei! Eu gostei disso!”

Somos os mesmos seres desesperados de sempre. Tentando perpetuar nossa memória individual enquanto o mundo se esfacela ao nosso redor pelas mãos de nós mesmos e nossos companheiros de miséria. 


Então viva! Não se envergonhe. Você pode dar até uma de blasé e dizer que não liga para o Facebook usando o Facebook para dizer ao mundo que você não liga. Pode mentir, eu dou um “like”. 

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