segunda-feira, 25 de março de 2013

Vamos falar sério sobre sexualidade?


Eu acredito que as pessoas deveriam fazer um curso de formação antes de virarem pais. Sério, colocar uma criança no mundo não é pouca coisa, exige responsabilidade, estabilidade e maturidade. Um criança necessita de sólida formação, de uma boa educação, precisa de estrutura e tranqüilidade para crescer bem, saudável e se tornar um adulto equilibrado, sereno e decente. Pois eu tenho a imensa sorte de ser filha de um casal que me ofereceu exatamente isso, minha mãe e meu pai são pessoas incríveis, meus heróis! Cresci num lar cheio de amor, carinho e respeito. Nunca apanhei dos meus pais, nunca fui destratada por eles, mas recebi sim muita educação, aprendi a respeitá-los não por medo, mas por um verdadeiro sentimento de respeito e admiração por aquelas duas pessoas que me formaram e me deram o que de melhor tinham a oferecer. 

Meus pais sempre foram muito honestos e sinceros comigo e me explicaram sobre sexo quando eu comecei a ter curiosidade sobre o assunto. Uma das coisas que minha mãe sempre dizia é que o sexo não é algo ordinário e vulgar, o sexo deve ser um ato de união íntima entre duas pessoas maduras o suficiente para saberem o que estão fazendo, duas pessoas que nutrem um sentimento mútuo de afetividade, respeito e amor. Minha mãe me ensinou que o meu corpo é um como um templo e devo cuidar dele, meu corpo não é apenas um playground de satisfação hedonista, é a morada de minha consciência, da minha humanidade. Eu não devo submeter o meu corpo a nada que me escandalize, a nada que me cause repulsa ou ofenda a minha consciência, ou seja, minha mãe me ensinou que eu devo sim me dar ao respeito. 

Essa sólida educação moral me rendeu muitas brincadeiras na escola. Enquanto minhas amiguinhas de colégio usavam roupas provocantes aos 13 anos de idade eu me vestia de forma discreta e tinha horror à roupas curtas. Enquanto minhas amiguinhas rebolavam ao som de danças sensuais eu me recusava a me submeter àquele tipo de exposição. Minhas amigas começaram a paquerar os garotos da escola enquanto eu não me sentia preparada para aquilo, não era meu tempo. Vejam, minha mãe não precisou me proibir de fazer essas coisas, eu não fazia porque ela me passou um ensinamento moral muito consistente que fez muito sentido para mim e ainda faz, ela me ensinou algo profundo e relevante, e isso bastou para que eu achasse muito estranho que minhas colegas estivessem transando aos 14 anos de idade. Ganhei o apelido de "velha" das meninas da sala, mas isso realmente não me incomodava, eu estava segura das minhas escolhas e muito tranqüila. Eu simplesmente não achava que o meu corpo, a morada da minha consciência e humanidade, era algo para ser exposto aos olhares lascivos de terceiros. Ainda não acho, na verdade...

O fato é que como muitas crianças da minha geração eu também ouvi sobre sexo nas aulas de educação sexual da escola. Logo na primeira aula de educação sexual a professora falou sobre prevenção de gravidez e DSTs e nos mostrou uma camisinha. Foi isso, nenhuma reflexão profunda sobre o ato sexual, apenas algumas palavras sobre como praticá-lo sem terminar grávida ou doente. O sexo era algo que poderíamos fazer por fazer quando desse vontade, desde que usássemos a camisinha. Puxa vida, será que é tão simples assim? Eu não achava, mas meus colegas de sala que não tiveram a educação familiar que eu tive entenderam assim a mensagem. O resultado é que aos 14 anos eu ouvi colegas com a minha idade preocupadas com a menstruação atrasada pois tinham transado com seus respectivos namorados e depois das primeiras relações deixaram o preservativo de lado, vi colegas procurando informação sobre aborto… aos 14 anos! Não estou falando que a aula de educação sexual da escola provocou isso, mas sim que uma falta de reflexão sobre sexo colocou a saúde física e mental das minhas colegas em risco. Pois o problema não é só engravidar aos 14, o problema é que elas foram expostas ao perigo de doenças sexualmente transmissíveis que tem o enorme potencial de causar danos para toda a vida… e isso aos 14 anos! Pessoal, isso não é normal, há algo de muito errado acontecendo. 

A sexualidade já foi um tabu e isso tampouco era bacana. Sexo não deve ser um assunto proibido! Impulso sexual é algo que praticamente todo mundo tem e criar uma verdadeira mitologia proibitiva sobre isso não é lá muito inteligente. Todavia, na tentativa de superar o tabu sobre o sexo caímos no extremo oposto da liberalidade onde o sexo se tornou algo que não só se pode como deve ser feito sem maiores preocupações. Quando falo de preocupações, não me refiro à culpa necessariamente, mas à reflexão sobre o que o ato sexual representa nas nossas vidas. O que significa se envolver com outro ser humano num grau tão elevado de intimidade? Sexo tem a ver com relações humanas, e esse é o tipo de coisa que não é ordinária. 

A falta dessa reflexão mais profunda, o medo que temos hoje de falar que sexo não deve ser feito sem uma boa noção sobre seus significados nas nossas vidas, tem dado resultados desastrosos. Assustadoramente os jovens estão entre os grupos que mais crescem nas estatísticas de infecção pelo vírus HIV, a gravidez na adolescência é uma realidade muito tangível e casos de violência sexual envolvendo pessoas muito jovens, tanto entre as vítimas quanto entre os perpetradores, crescem a cada dia. Não raro vídeos de adolescentes mantendo relações sexuais, gravados pelos próprios, vão parar na internet expondo essa molecada de maneira irremediável. Meninos e meninas não pensam duas vezes antes de se exibirem para webcams onde no outro lado, não raro, estão aliciadores de menores. No Facebook a garotada compartilha imagens sensuais, música com conteúdo sexual explícito e ainda postam fotos onde dançam de maneira insinuante, todo esse conteúdo compartilhado na internet pode ser acessado por um número imenso de pessoas e não é difícil que um aliciador esteja no meio e coloque esses jovens em grave perigo.

Quando falamos sobre sexo com a molecada sem uma reflexão cuidadosa e sem passar à eles noções mais profundas sobre sexualidade não estamos ajudando nossos jovens a lidar bem com a sexualidade, estamos os colocando em sério risco. Pode me chamar de conservadora, mas eu não penso que uma pessoinha de 13, 14 anos, deve namorar e iniciar a vida sexual. Uma pessoa nessa idade não tem maturidade suficiente para administrar um relacionamento mais íntimo, não tem capacidade de pesar bem as conseqüências de seus atos. As relações sexuais causam sim impacto psicológico até quando não terminam muito mal com uma gravidez inesperada ou uma doença séria. Sexo envolve sentimentos também, sentimentos muito íntimos, e quando não se tem bem a noção disso o impacto psicológico desse tipo de relação pode ser muito, mas muito negativo mesmo. E isso não vale apenas para meninas! Meninos precisam ser igualmente educados e quando falo em educação me refiro a ensiná-los que a masculinidade deles não é medida pelo número de garotas que eles beijam, e que há algo mais importante do que a masculinidade: a humanidade. E humanidade é algo que se cultiva na maneira como nos relacionamos com o próximo, em todos os sentidos!

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