sábado, 25 de abril de 2015

Ciclovias da discórdia


Voltei há pouco de uma temporada na Europa. Fiquei numa adorável cidade no Norte da Itália. Uma das coisas que eu mais gostava de lá era usar a bicicleta. De fato a bicicleta era o principal meio de transporte de boa parte da população. Era um tal de famílias inteiras saindo para passear de bike, idosas com suas bicicletas com cestas cheias de compras, engravatados correndo ocupados, senhoras de salto alto e belos vestidos pedalando… enfim, todo mundo usava a bike. Dependendo de onde eu ia era até difícil arrumar um lugar para estacionar a minha magrela. 

Bom, vários fatores contribuem para a bicicleta ser tão usada naquela cidade. Primeiro é que a cidade é pequena, os deslocamentos eram curtos e podiam ser perfeitamente superados de bicicleta. Segundo que a cidade é bem plana, com poucas ladeiras é fácil pedalar sem suar todos os líquidos do corpo. Terceiro é que os carros circulavam numa velocidade relativamente baixa, mesmo nos trechos sem ciclovias não dava medo pedalar, tanto é verdade que, como eu disse, todo mundo usa bikes lá: idosos e crianças pedalam tranquilamente pelas ruas.

Voltei para Sampa. Estou sem carro no momento então estou totalmente dependente do transporte público: irregular, cheio de atrasos e lotadíssimo! Mas não é tão ruim. Estava animada com o meu retorno porque fiquei sabendo das ciclovias inauguradas na cidade. Pensei: Se tiver uma perto da minha casa posso até comprar uma bike, apesar da ladeira para chegar na estação de trem mais próxima eu posso ficar menos dependente do busão.
Ledo engano!
Vai encarar?

Nada de ciclovia aqui em Pirituba, pelo menos na região onde moro.

O ÚNICO ônibus que passa na minha rua continua sempre atrasado e com horário muito limitado. Por exemplo, ele não circula domingo. Domingo ninguém sai de casa, sabem como é… Para chegar no outro ponto de ônibus mais próximo eu demoro no mínimo 15 minutos andando, subindo uma ladeira. Eu ainda sou jovem, encaro a ladeirona. Mas é óbvio que as pessoas idosas que vivem no meu prédio não possuem o mesmo fôlego. Também não possuem fôlego para encarar a subidona de bicicleta. 

Drive or die!

Ótimo que o prefeito esteja investindo em ciclovias. É ótimo. Mas é ótimo para trechos mais curtos e planos. Encarar 2, 3 quilômetros subindo uma ladeira de bicicleta é difícil demais. 

Me parece ainda que o investimento mais urgente para Sampa é o transporte público de qualidade. 
Além dos ônibus, um excelente investimento é nos bondes urbanos. Na cidade onde eu vivia na Itália havia uma linha. Era rápido, confortável e regular. Imagino que instalar esse sistema custe muito menos do que abrir inaugurar novas estações de metrô.
Tram ou, abrasileirando, bonde 

Eu nem digo que esses bondes deveriam circular na Marginal Tietê, eles seriam uma excelente opção para os bairros. Poderiam circular nas ruas distantes de pontos de ônibus ligando essas regiões às estações de trem e metrô que já existem.

Nem a inauguração de novas ciclovias nem o investimento em mais ônibus eliminam a validade de pensarmos nos bondes urbanos como uma opção para melhorar os deslocamentos em São Paulo.

Pense nisso, Haddad!

Vou pensar, Verônica!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Eu não sou Verônica!

Eu não sou Verônica! Eu jamais tentaria assassinar à pauladas uma idosa indefesa de 73 anos que estava em sua casa trabalhando, porque no Brasil idosas - mesmo brancas, mesmo heterossexuais - muitas vezes são pobres também e precisam trabalhar quando idealmente deveriam ter condições de aproveitar uma aposentadoria digna. 

“Ai! Você é a favor da violências policial!”

Bem, levando em consideração a violência no Brasil eu tenho lá minhas dúvidas sobre a possibilidade de existir uma polícia 100% pacífica que trabalhe resgatando gatinhos em árvores e dando informações para turistas perdidos. Mas não, não defendo violência policial indiscriminada, não defendo abuso de poder, não defendo que “bandido bom é bandido morto”. 

“Você não viu o que fizeram com ela na cadeia?”

Vi as fotos sim, preferiria não ter visto, mas vi. Eu vi, mas não sei o que aconteceu. Não sei exatamente o que houve para ela ficar naquele estado. Isso precisa ser investigado. 

“Ela foi vítima de transfobia!”

Você tem certeza disso? A violência nos cárceres no Brasil atinge praticamente toda a população carcerária. Eu vi a foto da Verônica. Mas já vi também fotos de cabeças de prisioneiros decepadas. Já vi fotos de corpos destroçados de prisioneiros. Já vi o choque entrar num presídio e executar mais de 100 pessoas. A violência brutal contra presidiários atinge todos que estão nas cadeias brasileiras. Será que a transfobia explica o que realmente aconteceu com Verônica? Eu não sei. E por isso retomo o que disse: precisa investigar.

“Reaça!”

Ah, ok. 

“RadFem transfóbica!”


Se você acha que devemos eleger de maneira precipitada uma mártir para efetivamente combatermos o preconceito contra a comunidade LGBT ok, pode me chamar de “RadFem transfóbica”. 

Veja aqui a versão da idosa agredida (fotos fortes!)